Um levantamento divulgado recentemente pela organização não governamental ACT (Aliança do Controle do Tabagismo) chama a atenção: em 2012, o Brasil gastou mais de R$ 20 bilhões para tratar doenças relacionadas ao tabaco. O valor equivale a cerca de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país e estima-se que corresponda ao dobro do que se arrecada com impostos sobre cigarros.
Os dados mostraram, também, que 82% dos casos de câncer de pulmão no Brasil são causados pelo fumo e 83% dos tumores de laringe estão relacionados ao tabagismo. Apesar de a maioria dos males causados pelo fumo afetarem o sistema respiratório, o tabagismo pode atingir outras partes do corpo, sendo responsável por muitos casos de câncer de bexiga, boca, língua, laringe, problemas de fertilidade e derrame cerebral. Segundo a ACT, cerca de 13% dos casos de câncer do colo do útero e 17% das ocorrências de leucemia mieloide estão relacionadas ao tabagismo.
Considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) a principal causa de mortes evitáveis, o cigarro é responsável por cinco milhões de óbitos anuais, o equivalente a dez mil mortes por dia, em todo o mundo. No Brasil, 200 mil fumantes morrem por ano. Mesmo com o índice elevado de óbitos e com todos os estudos apontando os malefícios do cigarro, ainda há 1,2 bilhão de fumantes em todo o mundo. No Brasil, o Ministério calcula que 19,6% dos brasileiros fumem.
O fato de, nas últimas décadas, os fumantes terem aderido em massa aos assim chamados cigarros de baixos teores, não alterou em nada a mortalidade. No caso das doenças pulmonares obstrutivas, que evoluem com falta de ar progressiva, foi até pior: a incidência mais do que duplicou, desde a década de 1980.
A explicação se deve às mudanças que a indústria introduziu na produção de cigarros: o uso de variedades de fumo geneticamente selecionadas para reduzir o pH da fumaça, o emprego de papel mais poroso e filtros com mais perfurações, tornaram menos aversivas, mais profundas e prolongadas as inalações, expondo aos efeitos tóxicos grandes extensões do tecido pulmonar.
Como o cigarro perde espaço no mundo industrializado, e em países como o Brasil, as multinacionais têm agido com agressividade nos mercados asiáticos e africanos, valendo-se da falta de instrução das populações mais pobres e da legislação frouxa que permite a publicidade predatória.
O primeiro passo para o sucesso no tratamento do vício é o profissional da saúde não criticar o fumante, nem desaprovar a atitude. A melhor forma de abordar o problema é com compreensão, motivação e sensibilização para os malefícios do cigarro. O tratamento basicamente associa o atendimento médico ao psicológico e inclui avaliação do perfil do fumante, detecção dos gatilhos que levam ao cigarro, medicação a base de bupropiona associada ou não ao adesivo de nicotina, acompanhamento semanal da evolução do paciente e a preparação para alta e prevenção de recaída. Quem acabou de largar o cigarro deve se afastar de hábitos associados ao fumo, como o cafezinho no meio da tarde, o consumo de álcool e situações estressantes.
Benefícios obtidos após a interrupção do tabagismo:
• após 20 minutos a pressão sangüínea e a pulsação voltam ao normal;
• após 2 horas não há mais nicotina no sangue;
• após 8 horas o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
• após 2 dias o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta a comida melhor;
• após 3 semanas a respiração fica mais fácil e a circulação sanguínea melhora;
• após 10 anos o risco de sofrer infarto do coração será igual ao de quem nunca fumou, e o risco de desenvolver câncer de pulmão cai à metade;
• após 20 anos o risco de desenvolver câncer de pulmão será quase igual ao de quem nunca fumou.
Dr. Fernando Meira de Faria – Radiologista – CRM-MG: 46.590